Cronologia histórica-espiritual.
outubro 24, 2022Os evangelhos têm propostas definidas, não são uma mera literatura narrando um acontecimento histórico a respeito de Jesus, tem propósito, meio e fim.
Mateus por exemplo, têm longas narrativas de Jesus; ele introduz a lei de forma propositiva e mostra Jesus judeu, cumpridor de tais, mas sendo Senhor superior a lei. A genealogia segue a linha dos costumes hebreus, traz a genealogia da identidade paterna, começa em Abraão, o “pai” dos hebreus, o que carrega pra dentro da história a responsabilidade histórica da preservação da palavra de Deus e termina em José, “marido de Maria da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.” Preservando o trono do rei de Davi seguindo seus primogênitos.
Mateus toma uma linha de cuidado para apresentar Jesus como o Messias prometido pela lei e profetas sem provocar a resistência, conforme avança na leitura apresenta Jesus como Rei; Rei de um povo que O esperava, mas que não o reconheceram.
Marcos é diferente, ele escreve aos romanos, é um evangelho pragmático, rápido, exclui as longas falas, retira uma quantidade enorme de milagres, quase não traz o tema da lei nem cultura judaica; Não tem genealogia, Jesus se apresenta como aquele que veio servir, sendo Deus, é o Evangelho para o “tranco” da vida, sempre trabalhando em volta da tese: “Jesus, o filho de Deus.” Suas parábolas são sintetizadas, traz uma seqüência propositiva da ressurreição de Cristo que nenhum outro traz, tentando mostrar o verdadeiro lado da história do túmulo de Cristo no qual os romanos tentaram desmerecer.
Lucas é cientista, um historiador, chega a dizer que cuidou minuciosamente em todos os fatos, se preocupando em separar a verdade de contos; Tem uma cronologia histórica dos acontecimentos como nenhum outro, preserva falas inteiras e cortam outras, parece matéria jornalística de primeira qualidade que se preocupou com fontes fidedignas.
Seus leitores e propósitos são os gregos, portanto a sua genealogia começa em Adão, remetendo Jesus não como a linhagem de um trono davídico, não a um patriarca de uma nação, mostra Jesus como o messias da humanidade, inclusive dos gregos e toda sua helenização, sua genealogia é a de Maria.
Agora João vai além, João transcende carne e sangue, não tem genealogia humana alguma, ele começa dizendo que Jesus era o Verbo que estava com Deus desde o princípio, ele chega tirando Jesus da história dos homens e o coloca na eternidade passada e futura. Ou crê que Ele é Deus ou um louco palestino; É um evangelho estritamente com proposta espiritual, a cronologia histórica é deixada de lado invertendo quase todo processo seqüencial da vida de Jesus (exceto morte e ressurreição), cronologia histórica não serve pra nada em João. Ele traça uma genealogia espiritual de Cristo, e uma cronologia que vai mergulhando Jesus dentro de um propósito universal.
A prova disso (além da genealogia em Deus) ele inverte o episódio na expulsão dos mercadores do templo, em João é no começo, já no capítulo dois enquanto os outros evangelhos trazem no fim. E claro, não houve com certeza dois acontecimentos desses, se fosse ao começo do ministério de Jesus com certeza não duraria três anos, pois a denúncia religiosa e política da época eram extremamente apavorantes para o Sinédrio.
Cronologicamente faz parte de um processo irreversível, de quem vai a Jerusalém e morre. E João coloca o episódio logo depois de um casamento, e diz que assim principiou Jesus seus milagres em Caná da galiléia. Um casamento para tratar uma nova dispensacão instalada seguida da expulsão da religião do templo; João usa de hipérbole para mostrar o seu propósito: “Se escrevesse tudo que Jesus fizera como milagres, os livros do mundo inteiro não poderiam conter.” E prossegue: “Más estes escrevi para que creiais, e crendo tenhais vida Nele.”
Com isso, devemos nos perguntar qual a nossa hermenêutica hoje? Nossas maiores ignorâncias quanto aos textos bíblicos não são ao fato de não conhecer o grego-aramaico dos evangelhos; Más quase sempre por não conhecer o conceito histórico ou só por conhecer o conceito histórico literário. Eu limito a revelação do Espírito quanto a Palavra quando me prendo a minha ignorância histórica, limito a revelação do Espírito quando me prendo só pelo conhecimento histórico, a revelação vem em conhecer, discernir e ser revelado pelo Espírito. Eu busco o conhecimento histórico-literal- geográfico-textual más não posso prender-me só a isso, o casamento é crescer na Graça e no conhecimento.
Só João poderia receber a revelação do Apocalipse.
No Principio, Ele, o logos, e o logos, Ele, para Elohims, e o logos, Ele, Elohims.
Sem data que importe,
Fabiano Moreno.